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    Acidentes Ofídicos

    Acidentes ofídicos, ou simplesmente ofidismo, é o quadro clínico decorrente da mordedura de serpentes.



    Crotalus. Foto: Meg Jerrard/Unsplash


    No Brasil é comum chamar as serpentes de “cobras”. Este nome é mais corretamente empregado para se referir às serpentes da Família Elapidae, no Brasil representada pelas cobras corais verdadeiras.

    Algumas espécies de serpentes produzem uma peçonha em suas glândulas veneníferas capazes de perturbar os processos fisiológicos e bioquímicos normais de uma possível vítima, causando alterações do tipo colinérgicas, hemorrágicas, anticoagulantes, necróticas, miotóxicas, citolíticas e inflamatórias.

    Algumas espécies de serpentes peçonhentas são de interesse em saúde pública. Elas pertencem à duas famílias: Viperidae e Elapidae. Os acidentes causados por estas serpentes são divididos em quatro grupos, de acordo com o gênero da serpente causadora:

    Acidente botrópico: É causado por serpentes da família Viperidae, dos gêneros Bothrops e Bothrocophias (jararacuçu, jararaca, urutu, caiçaca, comboia). É o grupo mais importante, com cerca de 30 espécies em todo o território brasileiro, encontradas em ambientes diversos, desde beiras de rios e igarapés, áreas litorâneas e úmidas, agrícolas e periurbanas, cerrados, e áreas abertas. Causam a grande maioria dos acidentes ofídicos no Brasil;

    Acidente crotálico: É causado pelas cascavéis (Família Viperidae, espécie Crotalus durissus). As cascavéis são identificadas pela presença de guizo, chocalho ou maracá na cauda e têm ampla distribuição em cerrados, regiões áridas e semiáridas, campos e áreas abertas;

    Acidente laquético: Também é causado por serpentes da família Viperidae, no caso a espécie Lachesis muta (surucucu-pico-de-jaca). A surucucu é a maior serpente peçonhenta do Brasil. Seu habitat é a floresta Amazônica e os remanescentes da Mata Atlântica;

    Acidente elapídico: É causado pelas corais-verdadeiras (família Elapidae, gêneros Micrurus e Leptomicrurus). São amplamente distribuídos no país, com várias espécies que apresentam padrão característico com anéis coloridos.

    Outras serpentes também podem causar acidentes, ou mesmo envenenamento, mas sem gravidade. Algumas serpentes da família Colubridae podem mimetizar a coloração as corais-verdadeiras. Estas são conhecidas como falsas corais. Embora possuem glândulas de veneno, os envenenamentos causados pelas falsas corais não são de importância em saúde.

    Sintomas

    Acidente botrópico (Bothrops e Bothrocophias) - Nome popular: Jararaca, jararacuçu, urutu, caiçaca, comboia, cruzeira

    Sintomas: a região da picada apresenta dor e inchaço, às vezes com manchas arroxeadas (edemas e equimose) e sangramento pelos pontos da picada, em gengivas, pele e urina. Pode haver complicações, como grave hemorragia em regiões vitais, infecção e necrose na região da picada, além de insuficiência renal.

    Acidente crotálico (Crotalus) - Nome popular: Cascavel, boicininga, marabóia, maracabóia, maracá

    Sintomas: o local da picada muitas vezes não apresenta dor ou lesão evidente, apenas uma sensação de formigamento. Pode ocorrer dificuldade de manter os olhos abertos, com aspecto sonolento (fácies miastênica), visão turva ou dupla, mal-estar, náuseas e cefaleia, acompanhadas por dores musculares generalizadas e urina escura nos casos mais graves.

    Acidente laquético (Lachesis) - Nome popular: Surucucu-pico-de-jaca

    Sintomas: quadro semelhante ao acidente por jararaca, a picada pela surucucu-pico-de-jaca pode ainda causar dor abdominal, vômitos, diarreia, bradicardia e hipotensão.

    Acidente elapídico (Micrurus e Leptomicrurus) - Nome popular: Coral-verdadeira

    Sintomas: o acidente por coral-verdadeira não provoca, no local da picada, alteração importante. As manifestações do envenenamento caracterizam-se por dor de intensidade variável, visão borrada ou dupla, pálpebras caídas e aspecto sonolento. Óbitos estão relacionados à paralisia dos músculos respiratórios, muitas vezes decorrentes da demora na busca por socorro médico.

    Tratamento

    Botrópico - Antiveneno: SABrB, SABLC ou SABCD

    Leve: quadro local discreto, sangramento discreto em pele ou mucosas; pode haver apenas distúrbio na coagulação. 2 a 4 ampolas.

    Moderado: edema e equimose evidentes, sangramento sem comprometimento do estado geral; pode haver distúrbio na coagulação. 4 a 8 ampolas.

    Grave: alterações locais intensas, hemorragia grave, hipotensão/choque, insuficiência renal, anúria; pode haver distúrbio na coagulação. 12 ampolas.

    Crotálico - Antiveneno: SACrE ou SABC

    Leve: alterações neuroparalíticas discretas; sem mialgia, escurecimento da urina ou oligúria. 5 ampolas.

    Moderado: alterações neuroparalíticas evidentes, mialgia e mioglobinúria (urina escura) discretas. 10 ampolas.

    Grave: alterações neuroparalíticas evidentes, mialgia e mioglobinúria intensas, oligúria. 20 ampolas.

    Laquético - Antiveneno: SABL

    Moderado: quadro local presente; pode haver sangramentos, sem manifestações vagais. 10 ampolas.

    Grave: quadro local intenso, hemorragia intensa, com manifestações vagais. 20 ampolas.

    Elapídico - Antiveneno: SAElaF

    Dor ou parestesia discretas, ptose palpebral, turvação visual. Considerar todos os casos como potencialmente graves devido ao risco de insuficiência respiratória, 10 ampolas.

    B SABr = Soro antibotrópico (pentavalente);
    C SABL = Soro antibotrópico (pentavalente) e antilaquético;
    D SABC = Soro antibotrópico (pentavalente) e anticrotálico;
    E SACr = Soro anticrotálico;
    F SAEla = Soro antielapídico (bivalente).

    Prevenção

    — Usar botas de cano alto ou perneira de couro, botinas e sapatos pode evitar cerca de 75% dos acidentes ofídicos;

    — Usar luvas de aparas de couro para manipular folhas secas, montes de lixo, lenha, palhas, etc. Não colocar as mãos em buracos. Cerca de 20% das picadas atingem mãos ou antebraços;

    — Serpentes se abrigam em locais quentes, escuros e úmidos. Deve-se ter cuidado ao mexer em pilhas de lenha, palhadas de feijão, milho ou cana, e ao revirar cupinzeiros;

    — Serpentes se alimentam de ratos e por isso deve-se controlar o aparecimento destes roedores nas residências. Limpar paióis e terreiros, não deixar lixo acumulado. Fechar buracos de muros e frestas de portas;

    — Evitar acúmulo de lixo ou entulho, de pedras, tijolos, telhas e madeiras, bem como não deixar mato alto ao redor das casas. Isso atrai e serve de abrigo para pequenos animais, que servem de alimentos às serpentes. (Ministério da Saúde Brasil)




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