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Acidentes por Aranhas
Acidentes por aranhas, ou araneísmo, é o quadro clínico de envenenamento decorrente da inoculação da peçonha de aranhas, através de um par de ferrões localizados na parte anterior do animal. Assim como os escorpiões, as aranhas são representantes da classe dos aracnídeos.
No Brasil, as aranhas de importância em saúde pública pertencem a três gênero:
Loxosceles – Conhecidas como aranha-marrom ou aranha-violino. As aranhas deste gênero não são agressivas, picam geralmente quando comprimidas contra o corpo. Têm, em média, um centímetro de corpo e até três de comprimento total. Possuem hábitos noturnos, constroem teias irregulares, como “algodão esfiapado”. Escondem-se em telhas, tijolos, madeiras, atrás ou embaixo de móveis, quadros, rodapés, caixas ou objetos armazenados em depósitos, garagens, porões, e outros ambientes com pouca iluminação e movimentação.
Phoneutria – São popularmente chamadas de aranha-armadeira ou macaca. São bastante agressivas, assumindo posição de defesa saltando até 40 cm de distância. O corpo pode atingir 4 cm, com 15 cm de envergadura. São aranhas caçadoras, com atividade noturna. Abrigam-se sob troncos, palmeiras, bromélias e entre folhas de bananeira. Podem se alojar também em sapatos, atrás de móveis, cortinas, sob vasos, entulhos, materiais de construção, etc.
Latrodectus – São as famosas aranhas viúva-negra. Não são agressivas. As fêmeas podem chegar a 2 cm e os machos são menores, de 2 a 3 mm. Têm atividade noturna e hábito de viver em grupos. Fazem teias irregulares em arbustos, gramíneas, cascas de coco, canaletas de chuva ou sob pedras. São encontradas próximas ou dentro das casas, em ambientes sombreados, como frestas, sob cadeiras e mesas em jardins.
Acidentes causados por outras aranhas podem ser comuns, porém sem relevância em saúde pública, sendo que os principais grupos pertencem, principalmente, às aranhas que vivem nas casas ou suas proximidades, como caranguejeiras e aranhas de grama ou jardim. As aranhas caranguejeiras (Infraordem Mygalomorphae), embora grandes e frequentemente encontradas em residências, não causam acidentes considerados graves.
Sintomas
Acidente loxoscélico (Loxosceles)
A picada quase sempre é imperceptível. O quadro clínico pode se apresentar de duas formas:
Forma cutânea: Dor de pequena intensidade. O local acometido pode evoluir com palidez mesclada com áreas equimóticas (“placa marmórea”). Também podem ser observadas vesículas e/ou bolhas sobre área endurada, com conteúdo sero‐sanguinolento ou hemorrágico. Pode ocorrer febre, mal‐estar geral, fraqueza, náusea, vômitos e mialgia.
Forma cutâneo-hemolítica: Hemólise intravascular, de intensidade variável. A principal complicação é a injúria renal aguda por necrose tubular. Anemia, icterícia e hemoglobinúria se instalam geralmente nas primeiras 24 horas pós‐picada. Mais raramente, há descrição de pacientes que evoluem com coagulação intravascular disseminada (CIVD).
Acidente fonêutrico (Phoneutria)
A dor imediata é o sintoma mais frequente. Sua intensidade é variável, podendo se irradiar até a raiz do membro acometido. Outras manifestações são: edema, eritema, parestesia e sudorese no local da picada, onde podem ser visualizadas as marcas de dois pontos de inoculação.
Acidente latrodéctico (Latrodectus)
Dor na região da picada, suor generalizado e alterações na pressão e nos batimentos cardíacos. Podem ocorrer tremores, ansiedade, excitabilidade, insônia, cefaléia, prurido, eritema de face e pescoço. Há relatos de distúrbios de comportamento e choque nos casos graves. Contratura facial, trismo dos masseteres caracteriza fácies latrodectísmica observado em 5% dos casos.
Tratamento
É eminentemente clínico-epidemiológico, não sendo empregado na rotina hospitalar exame laboratorial para confirmação do tipo de veneno circulante. No loxoscelismo na forma cutâneo-hemolítica, as alterações laboratoriais podem ser subclínicas, com anemia aguda e hiperbilirrubinemia indireta. Elevação dos níveis séricos de ureia e creatinina é observada somente quando há injúria renal aguda. No latrodectismo, as alterações laboratoriais são inespecíficas. São descritos distúrbios hematológicos (leucocitose, linfopenia), bioquímicos (hiperglicemia, hiperfosfatemia), do sedimento urinário (albuminúria, hematúria, leucocitúria) e eletrocardiográficos (fibrilação atrial, bloqueios, diminuição de amplitude do QRS e da onda T, inversão da onda T, alterações do segmento ST e prolongamento do intervalo QT). As alterações laboratoriais do foneutrismo são semelhantes às do escorpionismo, notadamente aquelas decorrentes de comprometimento cardiovascular.
Loxoscélico
Antiveneno: SALoxA (Soro antiloxocélico), SAArB (Soro antiaracnídico: Loxosceles, Phoneutria, Tityus)
Forma cutânea leve: Lesão incaracterística sem alterações clínicas ou laboratoriais. Se a lesão permanecer incaracterística é fundamental a identificação da aranha no momento do acidente para confirmação do caso.
Forma cutânea moderada: Presença de lesão “característica” ou altamente sugestiva (palidez ou placa marmórea, menor de três centímetros no seu maior diâmetro, incluindo a área de enduração), e dor em queimação ou a presença de lesão sugestiva (equimose, enduração, dor em queimação). Nº de ampolas - 5
Forma cutânea grave: Presença de lesão extensa (palidez ou placa marmórea, maior de três centímetros no seu maior diâmetro, incluindo a área de enduração), e dor em queimação intensa. Nº de ampolas - 10
Forma cutânea-hemolítica: A presença de hemólise, independentemente do tamanho da lesão cutânea e do tempo decorrido pós‐acidente, classifica o quadro como grave. Nº de ampolas - 10
Fonêutrico
Antiveneno: SAAr
Leve: Dor, edema, eritema, irradiação, sudorese, parestesia, taquicardia e agitação secundárias à dor.
Moderado: Manifestações locais associadas à sudorese, taquicardia, vômitos ocasionais, agitação, hipertensão arterial. Nº de ampolas - 2 a 4
Grave: Prostração, sudorese profusa, hipotensão, priapismo, diarreia, bradicardia, arritmias cardíacas, convulsões, cianose, edema pulmonar, choque. Nº de ampolas - 5 a 10
Não há disponibilidade de tratamento soroterápico para os casos de acidentes latrodécticos. Nestes casos, utiliza-se para o tratamento, além de analgésicos, Benzodiazepínicos, Gluconato de Cálcio e Clorpromazina. Há relatos de utilização de Prostigmine, Fenitoína, Fenobarbital e Morfina. Deve-se garantir suporte cardiorespiratório e os pacientes devem permanecer hospitalizados por, no mínimo, 24 horas.
Prevenção
— Manter jardins e quintais limpos. Evitar o acúmulo de entulhos, folhas secas, lixo doméstico, material de construção nas proximidades das casas.
— Evitar folhagens densas (plantas ornamentais, trepadeiras, arbusto, bananeiras e outras) junto a paredes e muros das casas. Manter a grama aparada.
— Limpar periodicamente os terrenos baldios vizinhos, pelo menos, numa faixa de um a dois metros junto das casas.
— Sacudir roupas e sapatos antes de usá-los, pois as aranhas e escorpiões podem se esconder neles e picar ao serem comprimidos contra o corpo.
— Não pôr as mãos em buracos, sob pedras e troncos podres.
— Usar calçados e luvas de raspas de couro pode evitar acidentes.
— Vedar soleiras das portas e janelas ao escurecer, pois muitos desses animais têm hábitos noturnos.
— Vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos e vãos entre o forro e paredes, consertar rodapés despregados, colocar saquinhos de areia nas portas e telas nas janelas.
— Usar telas em ralos do chão, pias ou tanques.
— Combater a proliferação de insetos para evitar o aparecimento das aranhas que deles se alimentam.
— Afastar as camas e berços das paredes. Evitar que roupas de cama e mosquiteiros encostem no chão. Inspecionar sapatos e tênis antes de calçá-los.
— Preservar os inimigos naturais de escorpiões e aranhas: aves de hábitos noturnos (coruja, joão-bobo), lagartos, sapos, galinhas, gansos, macacos, coatis, entre outros (na zona rural). (Ministério da Saúde Brasil)