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Acidentes por Lagartas
Acidentes por lagartas, ou erucismo, é o quadro clínico de envenenamento decorrente do contato com cerdas urticantes de lagartas, locais onde ficam armazenadas a peçonha.
A lagarta (taturana, marandová, mandorová, mondrová, ruga, oruga, bicho-peludo) é uma das fases do ciclo biológico de mariposas e borboletas (lepidóptero). Somente a fase larval de mariposas é capaz de produzir efeitos sobre o organismo; as demais (pupa, ovo e adulto) e larvas de borboletas são inofensivas.
A única exceção é a mariposa fêmea adulta do gênero Hylesia, que apresenta cerdas urticantes no abdômen. Em contato com a pele, essas cerdas podem causar dermatite papulopruriginosa. Os acidentes provocados pelas lagartas, popularmente chamados de “queimaduras”, têm evolução benigna na maioria dos casos.
As lagartas do gênero Lonomia são as únicas que têm maior relevância para a saúde pública, pois podem ocasionar acidentes graves ou mortes, pela inoculação do veneno no organismo, que se dá por meio do contato das cerdas urticantes com a pele. Estas as lagartas que mais causam acidentes no Brasil, destacam-se às pertencentes a duas Famílias:
• Família Megalopygidae (lagartas “cabeludas”) - São geralmente solitárias e não-agressivas, de 1 a 8 cm de comprimento. Possuem “pelos” dorsais inofensivos longos e sedosos, de colorido variado (castanho, branco, negro, róseo) e que camuflam as verdadeiras cerdas pontiagudas e urticantes, que contém glândulas de venenos.
• Família Saturniidae (lagartas “espinhudas”) - Vivem em grupos. Possuem cerdas urticantes em forma de espinhos, semelhantes a pequenos pinheiros verdes, distribuídos no dorso da lagarta, não possuindo pelos sedosos. Estes “espinhos” mimetizam muitas vezes as plantas que as lagartas habitam. Nesta família se inclui o gênero Lonomia, com ampla distribuição em todo o País, e causador de acidentes hemorrágicos.
O Brasil é o único país produtor do Soro Antilonômico (SALon), específico para o tratamento dos envenenamentos moderados e graves causados por lagartas do Gênero Lonomia.
Sintomas
Normalmente, os acidentes com lagartas ocorrem quando o indivíduo toca o animal, geralmente em tronco de árvores ou ao manusear vegetação. O contato com as cerdas pontiagudas faz com que o veneno contido nos "espinhos" seja injetado na pessoa. A dor, na maioria dos casos, é violenta, irradiando-se do local da "queimadura" para outras regiões do corpo. No caso de acidentes por Lonomia, podem ocorrer manifestações tanto locais quanto sistêmicas:
— Manifestações locais – dor imediata (queimação), irradiada para o membro, com área de eritema e edema na região do contato. Podem-se evidenciar lesões puntiformes eritematosas nos pontos de inoculação das cerdas e adenomegalia regional dolorosa. Bolhas e necrose cutânea superficial são raras. Os sintomas normalmente regridem em 24 horas, sem maiores complicações.
— Manifestações sistêmicas – Instalam-se algumas horas após o acidente, mesmo depois da regressão do quadro local. Presença de queixas inespecíficas (cefaleia, mal-estar, náuseas e dor abdominal), que muitas vezes estão associadas ou antecedem manifestações hemorrágicas (gengivorragia, equimoses espontâneas ou traumáticas, epistaxe). Hematúria, hematêmese e hemoptise podem indicar maior gravidade. Injúria renal aguda e hemorragia intracraniana têm sido associadas a óbitos.
Tratamento
É eminentemente clínico-epidemiológico, não sendo empregado na rotina hospitalar exame laboratorial para confirmação do veneno circulante. O tempo de coagulação (TC) é útil no auxílio ao diagnóstico e no acompanhamento pós-soroterapia.
Dependendo da lagarta, os sintomas podem tratados com medidas para alívio da dor, como compressas frias ou geladas. Nos casos de suspeita de acidente com Lonomia, o paciente deve ser levado ao serviço de saúde mais próximo, para que o profissional de saúde avalie a necessidade de administração do soro antilonômico (SALon).
Leve: Quadro local apenas, sem sangramentos ou distúrbios na coagulação
Moderado: Quadro local presente ou não; tempo de coagulação alterado; sangramentos ausentes ou presentes apenas em pele ou mucosas. Nº de ampolas - 5
Grave: Quadro local presente ou não; tempo de coagulação alterado; sangramentos em vísceras (risco de morte). Nº de ampolas - 10
Prevenção
Ao coletar frutas no pomar, realizar atividades de jardinagem ou em qualquer outra em ambientes silvestres, observar bem o local, troncos, folhas, gravetos antes de manuseá-los, fazendo sempre o uso de luvas para evitar o acidente.
A incidência maior de acidentes deve-se ao desmatamento, queimadas, extermínio de predadores naturais, loteamentos sem planejamento e sem avaliação do impacto ecológico que isto acarreta, obrigando a procura destas espécies por outros ambientes para sobreviver, onde se dá o contato com o homem. (Ministério da Saúde Brasil)