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Bactéria pode diminuir impacto do uso de fertilizantes nitrogenados
O emprego de bactérias promotoras de crescimento em cultivos de plantas pode ser uma alternativa para reduzir o uso de fertilizantes nitrogenados, tornando a produção mais sustentável, aponta estudo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba.
O pesquisador Cássio Carlette Thiengo inoculou a bactéria Herbaspirillum seropedicae em plantas de capim-marandu, adotado em pastagens, conseguindo melhorias no aproveitamento dos recursos do solo, do crescimento e da eficiência dos nutrientes. A técnica, além do menor custo e da facilidade de aplicação, não gera resíduos que poluem o ambiente.
A preocupação com a sustentabilidade agrícola, especialmente nas vastas pastagens tropicais ocupadas pelo capim-marandu (Urochloa brizantha cv. Marandu) levou à realização do trabalho.
O pesquisador explica que o estudo verificou a compatibilidade entre a inoculação com uma bactéria diazotrófica endofítica, que fixa o nitrogênio da atmosfera no interior das plantas, Herbaspirillum seropedicae HRC54, em plantas cultivadas em diversos níveis de fertilização nitrogenada, com foco em melhor explorar o efeito sinérgico desses insumos na produção agrícola sustentável.
“Na busca por alternativas promissoras para reduzir a dependência dos fertilizantes nitrogenados e aumentar a eficiência de uso do nutriente, a inoculação com bactérias promotoras de crescimento de plantas tem sido considerada uma solução potencial”, aponta Thiengo.
“Essa abordagem, que é de baixo custo, fácil de adquirir e aplicar, e não gera resíduos poluidores, está alinhada com a agricultura sustentável e de baixo carbono, atendendo às demandas contemporâneas.”
O pesquisador examinou o papel da inoculação de Herbaspirillum seropedicae combinada com diferentes níveis de fertilização com foco na contribuição da fixação e recuperação de nitrogênio usando duas técnicas isotópicas, baseadas em partículas do elemento químico, e considerando também avaliações de raízes, medidas nutricionais e produtivas.
O estudo foi conduzido em casa de vegetação, sob condições controladas. Os tratamentos consistiram na combinação de quatro níveis de fertilização com nitrogênio, nomeados como controle (zero), baixo, médio e alto, em plantas inoculadas ou não com a cepa HRC54 de H. seropedicae. A ureia foi a fonte nitrogenada utilizada.
Thiengo explica que a fertilização nitrogenada regulou a comunicação (“crosstalk”) entre o capim-marandu e Herbaspirillum seropedicae. A inoculação foi mais eficaz na promoção do crescimento do capim-marandu quando pouco ou nenhum fertilizante nitrogenado foi aplicado.
“Esta compatibilidade foi evidenciada pelo aumento da fixação biológica de nitrogênio e mudanças na arquitetura da raiz das plantas, resultando em melhor exploração dos recursos do solo (mais nitrogênio, fósforo, potássio, manganês e ferro acumulados) e do fertilizante nitrogenado aplicado, o que por consequência aumentou a produção de forragem”, complementa.
O pesquisador ainda destacou o papel notável das metodologias baseadas em isótopos estáveis de nitrogênio, que possibilitou quantificar o nitrogênio fixado biologicamente, do fertilizante e do reservatório do solo absorvido pelas plantas.
“Isso nos forneceu pistas sólidas sobre os principais mecanismos promotores de crescimento desencadeados pela inoculação com H. seropedicae e em que magnitude foram afetados pela intensificação da fertilização com nitrogênio”, ressalta.
“Nossas descobertas destacam a importância da aplicação controlada de fertilizantes nitrogenados para otimizar os efeitos positivos da inoculação com bactérias diazotróficas endofíticas e alcançar maior eficiência na produção agrícola, contribuindo assim para a sustentabilidade e a gestão responsável dos recursos naturais”, finaliza Thiengo. (Jornal da USP)