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Bactérias do fundo do mar produzem matéria-prima para limpeza, cosméticos e alimentos
A busca por produtos úteis para os seres humanos a partir da biodiversidade – chamada de bioprospecção – gera resultados notáveis. Plantas, animais e microrganismos são importantes fontes de medicamentos, alimentos e matérias-primas.
O ambiente marinho, apesar de cobrir aproximadamente 70% da superfície da Terra e abrigar uma ampla biodiversidade, ainda é pouquíssimo explorado nesse sentido. Foi, justamente, a partir do estudo de bactérias do fundo do mar do litoral de São Paulo, que a pesquisadora Paula Rezende Teixeira, pós-doutoranda do Laboratório de Farmacologia Marinha (LaFarMar – ICB-USP), idealizou um projeto de inovação.
A cientista pretende produzir, em larga escala, substâncias derivadas de microrganismos marinhos que são de grande interesse para diversos setores.
Em um dos projetos de pesquisa de que participa, Paula investiga o perfil químico de bactérias marinhas com o objetivo de compreender o metabolismo desses microrganismos e buscar substâncias produzidas por elas que possam ser do interesse humano.
Entre as diversas bactérias coletadas, cultivadas e analisadas, chamou a atenção uma família de compostos específica: as surfactinas, produzidas em grande quantidade por alguns dos microrganismos estudados.
A partir dos resultados do seu projeto científico, instigada por sua supervisora e unindo seus interesses pela ciência, inovação e empreendedorismo, a pós-doutoranda elaborou um projeto para a criação de uma startup com o objetivo de viabilizar a comercialização da surfactina a partir de bactérias marinhas do gênero Bacillus, testando variações no cultivo para aumentar e baratear a produção das substâncias de interesse.
Embora essa família de compostos possua um grande potencial de utilização em vários setores, sua obtenção em grande escala, necessária para ampliar e diversificar seu uso, ainda é um desafio.
China e Japão se destacam como os maiores produtores e exportadores de surfactinas, porém o valor de mercado desta matéria-prima ainda é bastante alto, pois o cultivo de bactérias produtoras de biossurfactantes é um processo caro e de baixo rendimento.
Paula Teixeira afirma que o que mais diferencia a academia e o empreendedorismo é o olhar para o mercado de modo a entender para quem e como vender determinado produto.
A pesquisadora ressalta, ainda, a importância de se manter sempre atualizado, além de aprender a fazer conexões e procurar ajuda: “A gente não precisa fazer tudo sozinho, mas precisa saber quem buscar”.
A professora Andrea Balan, coordenadora do NIDUS, considera que instituições de ensino superior são repositórios de conhecimento e experiência, e que, ao promover a inovação e o empreendedorismo, o programa facilita a transferência desse conhecimento para a sociedade.
Todos os residentes que participam do programa apresentam uma proposta para criação de uma startup no momento da inscrição e, durante o curso, validam e desenvolvem as suas propostas em espaços como o “hostel” de projetos – um local onde os pesquisadores podem iniciar suas atividades em ambiente multidisciplinar, com mentorias para a criação das empresas e auxílio para a captação de recursos.
“A residência funciona como uma etapa que antecede e acompanha a criação da startup para atuação futura em uma incubadora”, completa a docente. (Eduarda Antunes Moreira/Jornal da USP)