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    Capacidade dos cães entenderem expressões humanas é vital para relacionamento com as pessoas

    Você sabe como a relação entre um cão e um humano é construída? Pesquisadoras da USP acreditam que a capacidade do animal entender expressões humanas é um dos pontos-chaves para esse relacionamento.



    Capacidade dos cães entenderem expressões humanas é vital para relacionamento com as pessoas. Foto: Freepik


    O artigo da professora Briseida Dôgo de Resende e da pesquisadora Natalia Albuquerque, ambas do Instituto de Psicologia (IP) da USP, discute as habilidades de percepção de emoções de cães, como essa percepção é utilizada por eles e traz sugestões para investigações futuras, como a da personalidade, dos níveis de apego com o cachorro e de fatores demográficos.

    “A motivação para escrever o artigo foi trazer essas ideias à comunidade, levando em consideração quão longe os cães vão para ler nossas emoções“, pontua Natalia. “Nosso estudo traz discussões novas sobre o tema, além de juntar em um único artigo os principais achados sobre as habilidades de perceber e interpretar expressões emocionais humanas pelos cães”, complementa.

    O artigo é uma revisão sistemática, ou seja, quando os autores apresentam discussões e conclusões com base na literatura científica existente sobre o tema. Natalia conta que foram usadas 61 referências, escolhidas de acordo com a relevância na área.

    Uma das novas discussões que o artigo traz é a utilização pelos cachorros da informação emocional dos seres humanos para resolver problemas sociais. Por exemplo, esses animais preferem se aproximar de pessoas sorridentes do que daquelas que estão com expressão de raiva.

    A professora Briseida explica que o desenvolvimento da capacidade dos cachorros de entender as expressões humanas pode ser pensado em dois momentos: durante a evolução da espécie e durante a história individual de cada cão.

    “A seleção natural pode ter atuado no sentido de favorecer a sobrevivência de cães mais hábeis para aprender sobre as expressões das emoções dos humanos”, explica.

    No entanto, ela ressalta que ainda não é possível dizer exatamente como essa evolução ocorreu. Mas, ao se aproximar dos tutores, o cachorro passa a reconhecer as emoções e vai se adaptando a elas.

    Os cães não apenas reconhecem as emoções humanas, mas também entendem as consequências disso e respondem de acordo com cada expressão.

    “Essas habilidades foram críticas para a aproximação das duas espécies, para o estabelecimento de laços e para a manutenção dos relacionamentos. Hoje em dia, dividimos nossas vidas com animais que são sintonizados a nós e que podem nos compreender”, diz Natalia Albuquerque.

    As autoras trazem sugestões de abordagens para novos estudos. Para elas, investigar a personalidade, os níveis de apego ao cão e fatores demográficos pode ser importante para entender a comunicação emocional entre esses animais e os humanos.

    Essa habilidade, além de fortalecer a relação entre as duas espécies, ainda é benéfica para a segurança dos cães. Briseida Resende explica que a tendência de se afastar de pessoas com raiva, por exemplo, evita situações de perigo, enquanto se aproximar de pessoas alegres pode estar associado ao ganho de recompensas.

    Também há estudos que relacionam expressões humanas a mudanças fisiológicas em cachorros. Por exemplo, ao ouvir um bebê chorando, o nível de cortisol (hormônio liberado em situações de estresse) do cão tende a aumentar.

    Além dos cães, há pesquisas que mostram que cavalos e gatos são capazes de reconhecer emoções por meio da expressão e do som. Assim, seria interessante investigar as respostas de cada espécie às emoções humanas.

    As pesquisadoras também pontuam que é importante levar em consideração as diferenças culturais e de contexto, estudando não só cachorros de países ocidentais, industrializados, ricos e democráticos, que fazem parte da amostra na maioria dos estudos.

    “Só podemos entender realmente os cães se pudermos entender sua vida emocional”, aponta Natalia. (Bianca Camatta/Jornal da USP)

    19 DE FEVEREIRO DE 2023



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