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    Casca da jabuticaba reduz inflamação e glicemia em pessoas com síndrome metabólica

    Geralmente descartada por seu sabor adstringente, de “amarrar a boca”, a casca da jabuticaba pode ser uma excelente aliada no tratamento da obesidade e da síndrome metabólica, sugere estudo.



    Entre os compostos fenólicos presentes na casca da jabuticaba estão as antocianinas, que além de conferirem a cor arroxeada interferem no metabolismo da glicose. Foto: Alexandre Campolina/Wikimedia Commons


    Conduzida por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a pesquisa mostrou que o consumo diário de pelo menos 15 gramas da casca da fruta melhorou, ao longo de cinco semanas, os níveis de inflamação e de glicose no sangue de indivíduos com síndrome metabólica e obesidade.

    “Os compostos fenólicos e as fibras presentes na casca da jabuticaba têm o poder de modular o metabolismo da glicose. Já tínhamos observado esse efeito em estudos anteriores. Neste trabalho, no entanto, avaliamos o consumo prolongado e descobrimos que esse efeito na glicose se dá inclusive no período posterior à refeição, ou seja, na glicemia pós-prandial”, afirma Mário Roberto Maróstica Junior, professor da Unicamp e coordenador da investigação.

    Segundo o pesquisador, mesmo em indivíduos saudáveis a glicemia costuma aumentar após as refeições, voltando depois aos níveis normais.

    “Portanto, algo que possa baixar a glicemia após uma refeição é interessante, pois faz com que o sujeito tenha níveis controlados de açúcar no sangue ao longo do tempo, o que resulta em uma vida mais saudável e parâmetros mais controlados”, explica.

    O trabalho envolveu 49 participantes com síndrome metabólica e obesidade. Parte recebeu um suplemento diário com 15 gramas de casca de jabuticaba por cinco semanas, e os demais, apenas placebo.

    Todos foram submetidos a exames de sangue para monitoramento da glicemia. Também foram avaliadas as medidas antropométricas, como peso corporal e circunferência abdominal, além de pressão arterial e parâmetros inflamatórios, como a proteína interleucina-6, considerada um marcador de inflamação relacionada à obesidade.

    “O estudo apontou resultados positivos em relação à diminuição da glicemia pós-prandial e níveis de inflamação no grupo que recebeu o suplemento. Mas vale ressaltar que a casca da jabuticaba não faz milagre, ela é apenas uma excelente maneira de auxiliar a modulação da glicemia. Isso quer dizer que a estratégia precisa vir acompanhada de outras medidas, como boa alimentação e exercício físico”, destaca o pesquisador.

    Entre os compostos fenólicos presentes na casca da jabuticaba estão as antocianinas, que, além de conferirem a cor arroxeada à jabuticaba e a outras frutas, interferem no metabolismo da glicose, estimulando, sobretudo, as células L-intestinais.

    “Quando essas substâncias chegam ao intestino, entram em contato com as células L, responsáveis pela liberação de um composto chamado GLP-1 (glucagon-like peptide-1), que estimula a liberação de insulina na célula pancreática”, diz.

    O pesquisador ressalta que é a insulina liberada no pâncreas que melhora a utilização da glicose. “Essa é uma das funções da insulina: chegando às células musculares – que são grandes captadoras de glicose – ela realiza uma cascata de sinalização que favorece o transporte da glicose para dentro da célula”, conta.

    A síndrome metabólica é um conjunto de alterações metabólicas e hormonais que eleva o risco do indivíduo de desenvolver doenças cardiovasculares.

    Ela é caracterizada por pressão alta, obesidade abdominal, nível elevado de açúcar no sangue (hiperglicemia) e níveis anormais de triglicerídeos e HDL-colesterol. No estudo, os 49 participantes com síndrome metabólica apresentavam pelo menos três desses cinco fatores.

    O pesquisador ressalta ainda que a obesidade em geral está associada com níveis mais elevados de moléculas pró-inflamatórias. “É como se a pessoa tivesse uma inflamação constante e isso prejudica toda a ação da insulina.

    Por isso que, em geral, pessoas com sobrepeso e obesidade têm também resistência à insulina. Nesses casos, geralmente, apesar de a insulina ser produzida, ela não atua”, diz.

    Geralmente esse desbalanço nos níveis de glicose (que leva ao diabetes do tipo 2) pode ser corrigido com medicamentos ou a adoção de hábitos saudáveis e a perda de peso.

    “A casca da jabuticaba atua também reduzindo a interleucina -6, que tem papel-chave no desenvolvimento de resistência insulínica e contribui para a inflamação do tecido adiposo. Ela tem, portanto, um efeito positivo não só na glicose pré-prandial, mas também reduz os níveis de inflamação, o que a torna uma aliada para os casos de síndrome metabólica”, diz.

    O problema, segundo o pesquisador, é que ninguém quer comer a casca da jabuticaba por ela ser muito adstringente. “Mas isso pode ser contornado com o consumo de extratos e suplementos com a casca da fruta já disponíveis no mercado”, completa. (Maria Fernanda Ziegler/Agência FAPESP)

    1 DE ABRIL DE 2024



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