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    Cérebro comanda o ato de se alimentar: a fome biológica é saciada, mas não o prazer de comer

    O cérebro controla todo o corpo e, inclusive, possui ligações com o sistema digestório. Um dos meios de comunicação é pelo nervo vago e suas ramificações. Esse transmissor de informações faz parte do sistema nervoso autônomo e controla funções involuntárias, além de servir como mensageiro, sobretudo, do cérebro para o coração e aparelho digestivo.



    Cérebro comanda o ato de se alimentar. Foto: Icons8 Team/Unsplash


    “Uma outra forma é por meio das bactérias que habitam o nosso intestino. Elas também participam dessa comunicação. Como elas fazem isso? Elas digerem os alimentos que nós comemos e produzem substâncias que também estimulam o nervo vago. Além disso, nós também sabemos que o estômago e o intestino produzem hormônios, chamados de peptídeos, que chegam ao cérebro e são muito importantes para regular a nossa fome e a nossa saciedade“, explica a professora Vivian Marques Miguel Suen da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP e também coordenadora da Equipe de Terapia Nutricional do Hospital das Clínicas da FMRP-USP.

    A nossa fome pode ser controlada, principalmente, por dois sistemas: o fisiológico e o do prazer. Quando se aborda esse processo do ponto de vista da necessidade do organismo, envolve-se a necessidade de obter energia.

    Entretanto, os processos não são excludentes: ”Sentimos a necessidade de nos alimentarmos para manter o adequado funcionamento do corpo, a energia que a gente precisa para viver e todos os nutrientes, mas também pela sensação de prazer. Os dois mecanismos contribuem para a escolha que a gente faz dos alimentos”, diz Vivian.

    Mas, ao comer, a fome biológica é saciada enquanto o prazer ainda deseja mais alimentos: “A partir de determinado ponto, nós estamos com fome, nós ingerimos o alimento e a nossa fome fisiológica, digamos assim, ela passa. Nesse momento, a gente não tem mais necessidade biológica, porém, algumas pessoas ainda continuam comendo pelo prazer de comer, que é o que nós chamamos de alimentação hedônica“, completa a professora.

    Vários alimentos estão presentes na alimentação: desde os mais saudáveis até os industrializados, com muitos conservantes. Porém, dentre eles, os doces são os mais lembrados quando o assunto é comer por prazer.

    Eles contêm um alto teor de açúcar e Vivian explica o porquê deles serem tão visados pela fome hedônica: “Isso é muito interessante. É um assunto que precisa de muito estudo, muita investigação, mas o que a gente conhece até o momento é que o açúcar, quando é ingerido, de uma maneira bem geral, estimula o pâncreas. Então, a gente ingere o açúcar, ele chega lá no intestino, ele vai estimular o pâncreas e produzir a insulina.

    O que a insulina vai fazer? Ela vai fazer com que o açúcar entre para dentro da célula para que ele seja utilizado para produzir energia. No entanto, esse açúcar e a insulina vão chegar lá no cérebro, numa região que chama sistema mesolímbico e, nessa região, eles vão modificar a concentração de um neurotransmissor, a dopamina. Ela é responsável pela nossa sensação de prazer, então o açúcar tem essa função, tem essa capacidade”.

    A ligação entre a fome, o prazer e o cérebro ainda tem muito a ser estudada e, por mais que alguns mecanismos interligando esses sistemas possam ser analisados, a variação de alimentos, abordagem nutricional e estilo de vida alteram toda a análise. É preciso também estar atento para apenas a questão do prazer na alimentação: “Está satisfazendo, provavelmente, uma necessidade psicológica e não uma necessidade fisiológica”, coloca a especialista. (Alessandra Ueno/Jornal da USP)

    20 DE MARÇO DE 2023



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