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Contagem de células do sangue ajuda a prever sobrevida no câncer de fígado avançado
Os índices inflamatórios baseados em contagem de células sanguíneas podem ser uma opção para prever a evolução de pacientes com câncer de fígado avançado, revela pesquisa do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).
A análise dos dados de pacientes tratados com terapia medicamentosa mostrou que o índice que relaciona a contagem de dois subtipos de células de defesa do sangue, os neutrófilos e os linfócitos, está associado à sobrevida do portador da doença.
“O tipo de câncer analisado foi o carcinoma hepatocelular, ou câncer de fígado”, explica ao Jornal da USP o pesquisador Leonardo Gomes da Fonseca, do HC e do Icesp, autor do trabalho. “É a sexta neoplasia mais incidente no mundo, com aproximadamente 900 mil casos novos por ano, e a terceira mais letal, com cerca de 830 mil mortes.”
Segundo o pesquisador, existem outros métodos para prever a sobrevida dos pacientes. “O mais comum na rotina médica é fazer um exame de imagem do tipo tomografia”, relata. “Se há crescimento do tumor, é um sinal de pior sobrevida, se há redução, é um indício de melhor sobrevida.”
A pesquisa analisou 373 pacientes com câncer de fígado avançado. “Todos eles tinham diagnóstico de carcinoma hepatocelular fora das possibilidades de tratamento curativo e indicação de tratamento medicamentoso, com objetivo de aumentar a sobrevida. O medicamento que os pacientes utilizaram foi o sorafenibe”, relata Fonseca.
“Nós verificamos quais características são preditoras de melhor ou pior sobrevida, incluindo o impacto de índices inflamatórios medidos facilmente na prática clínica através de exames de rotina, como a razão entre a contagem de neutrófilos e linfócitos. Este índice é um marcador de estado inflamatório sistêmico.”
“Os neutrófilos e linfócitos são dois subtipos de leucócitos, ou glóbulos brancos, células que circulam no sangue e têm diferentes funções ligadas ao nosso sistema imunológico, como a defesa contra infecções”, observa o pesquisador.
“Eles também parecem participar da reação imunológica relacionada ao câncer. Por exemplo, os linfócitos podem ser ativados e destruir células tumorais; os neutrófilos ativariam uma inflamação que facilita a progressão do câncer. Por essa razão, ambos têm relação com a sobrevida do paciente.”
O estudo verificou que a principal causa de câncer de fígado entre a população estudada é a infecção pelo vírus da hepatite C, seguida por hepatite B, álcool e doença hepática gordurosa.
“Nós concluímos também que a razão entre a contagem de neutrófilos e linfócitos é capaz de predizer a sobrevida dos pacientes, quando medida no início do tratamento”, destaca Fonseca.
“Quando o índice se encontra elevado, a sobrevida é menor. Além disso, as mudanças dinâmicas desta razão no primeiro mês de tratamento melhoram a capacidade preditiva do índice.”
“Concluímos que os índices inflamatórios podem auxiliar o médico na definição prognóstica, além de servir como base para desenho de estudos futuros direcionados a subgrupos de pacientes com carcinoma hepatocelular com diferentes riscos de mortalidade”, aponta o pesquisador. (Júlio Bernardes/Jornal da USP)