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Cientistas descobrem fóssil de antigo “crocodilo do mar” no Reino Unido
Nos últimos 3,5 bilhões de anos, é fato que muitas espécies de animais surgiram e desapareceram da face da Terra. Mas, de vez em quando, um raro registro de uma classe extinta de bichos é encontrado nos cantos mais remotos.
Em um artigo publicado no periódico Journal of Vertebrate Paleontology, um grupo internacional de pesquisadores registrou a descoberta de um tipo de “crocodilo marinho” que habitou a Costa Jurássica, em Dorset, no Reino Unido, 185 milhões de anos atrás.
Os achados, que incluíram parte da cabeça, coluna vertebral e membros da espécie de crocodilomorfos chamada Turnersuchus hingleyae, constituem um raro registro de um animal do clado dos Thalattosuchia.
De acordo com o biólogo evolutivo e paleontólogo Pedro Godoy, pesquisador da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP e um dos autores do artigo recém-publicado, os Thalattosuchias são referidos coloquialmente como “crocodilos marinhos” ou “crocodilos do mar”, apesar do fato de não serem membros da ordem dos Crocodylia.
Por isso, os especialistas se referem a eles como parentes distantes.
“Os crocodilos atuais são remanescentes de uma linhagem bem antiga, de mais de 200 milhões de anos. Hoje em dia, temos uma diversidade bem pequena desses animais, por volta de 30 espécies, mas, ao longo de todos esses 200 milhões de anos, a diversidade deles foi bem maior”, reflete ele.
De acordo com o biólogo, ao contrário dos crocodilos, este predador de aproximadamente 2 metros de comprimento viveu exclusivamente em habitats marinhos costeiros.
E embora seu crânio pareça superficialmente com o dos crocodilos modernos, eles foram construídos de forma bastante diferente.
“Alguns deles são parecidos morfologicamente com crocodilos atuais, com focinho alongado, um porte, às vezes, um pouco menor. Mas, na história evolutiva desses animais, alguns desenvolveram adaptações ao ambiente marinho muito extremas, o que faz com que tenhamos quase certeza de que eles não saíam do mar para nada”, ilustra ele.
Sobre a espécie localizada recentemente, Godoy esclarece que o grupo se desenvolveu e se diversificou “principalmente durante o Período Jurássico”, entre 200 e 145 milhões de anos atrás.
Outros registros são encontrados em praticamente todas as partes do mundo, mas principalmente na Europa, em rochas na Alemanha e, como neste caso, na Inglaterra.
No estudo, os cientistas afirmaram que a descoberta desse novo predador ajuda a preencher uma lacuna no registro fóssil e sugere que os Thalattosuchias, como outros crocodiliformes, devem ter se originado por volta do final do período Triássico. Para atestar, foi realizada a medição da idade das rochas em que os fósseis foram encontrados.
De acordo com o paleontólogo, por meio da medição, que é determinada a partir da análise de elementos químicos instáveis presentes nas rochas, é possível delimitar a idade do animal. “Geralmente, fazemos isso por comparação com outras rochas de outras localidades”, esclarece.
Apesar disso, o especialista lembra que nenhuma escavação encontrou Thalattosuchias em rochas triássicas ainda, o que significa que há uma “linhagem fantasma” que precisa ser descoberta, um período durante o qual sabemos que um grupo deve ter existido, mas ainda não recuperamos evidências fósseis.
Não por acaso, o nome “Turner”suchus “hingley”ae se originou daqueles que descobriram e doaram o espécime ao Museu Lyme Regis, na Inglaterra: Paul Turner e Lizzie Hingley, que localizaram o fóssil em 2017.
Já a terminação suchus é a forma latinizada de soukhos, grego para crocodilo.
Por fim, Godoy reflete que, apesar da importância da descoberta, ainda precisamos achar mais peças desse quebra-cabeça paleontológico para entendermos o caminho evolutivo desse tipo de animal.
“Precisamos encontrar alguma espécie que seja mais antiga e que nos ajude a entender a origem desse grupo, de onde exatamente, na árvore dos crocodilos, ele surgiu”, conclui. (Denis Pacheco/Jornal da USP)