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Estudo sugere que núcleo interno da Terra pode estar girando mais lentamente que a superfície
Pesquisadores da Universidade de Pequim, na China, sugeriram que o núcleo interno da Terra parou de girar mais rápido que a superfície do planeta e agora pode estar girando mais devagar do que ela.
De acordo com Ricardo Trindade, professor do Departamento de Geofísica do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, a pesquisa atestou, parcialmente, fatos já conhecidos na área das Geociências.
“Sabemos que a Terra tem essencialmente quatro grandes camadas, um núcleo interno que é rígido, um núcleo externo que é líquido e de composição metálica, além de duas camadas de rocha, um manto e outra, superficial, que é a crosta terrestre”, explica ele ao confirmar que, “sabemos também, há muito tempo, que a velocidade angular dessa camada rochosa externa é diferente da velocidade angular da camada metálica mais interna”.
A novidade do estudo, que analisou ondas sísmicas de terremotos repetidos nas últimas seis décadas, foi apontar que o núcleo interno começou a girar um pouco mais rápido que o resto do planeta no início dos anos 1970, mas estava desacelerando antes de entrar em sincronia com a rotação da Terra por volta de 2009.
No trabalho, pesquisadores chineses também sugeriram que o núcleo interno gira, em relação à superfície da Terra, para frente e para trás, como um balanço em um ciclo de oscilação que dura cerca de sete décadas.
No entanto, quando o assunto envolve geologia, o período analisado pelos chineses é considerado “muito curto” para ser efetivamente conclusivo.
“O que eles tentaram foi mostrar que, além de identificar essa variação da velocidade, existe também uma periodicidade nesse processo. Mas será que a gente consegue comprovar isso com essa quantidade de dados dentro dessa janela tão curta de tempo?”, questiona o especialista.
Apesar das dúvidas, os pesquisadores chineses esperam que o novo trabalho motive outros cientistas a construir diferentes modelos que tratem a Terra como um “sistema dinâmico integrado”. “Como eles registraram no artigo, o sistema da Terra, desde a superfície até a parte mais interna, funciona como um organismo integrado em que uma camada interfere na outra de várias formas”, explica o professor.
Por fim, os cientistas afirmam que a “tendência negativa” do movimento do núcleo não é definitiva e a próxima mudança ocorreria em meados da década de 2040.
E, embora as implicações possam parecer pequenas para os habitantes da superfície, o professor reforça o quão relevante é compreender melhor o movimento no interior do nosso planeta.
“Uma das consequências mais interessantes do trabalho é com relação a certos aspectos da Terra que enxergamos na superfície.” Além de influenciar a duração do dia no nosso planeta, o movimento diferencial desse sistema também afeta a ação gravitacional e gera o campo magnético terrestre, que “nos protege das radiações nocivas que vem de fora do planeta”, conclui. (Denis Pacheco/Jornal da USP)