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    Estudo internacional com participação da USP identifica nova rota para tratamento da malária

    Uma parceria entre pesquisadores da Universidade de Groningen (RUG), na Holanda, e do laboratório Unit for Drug Discovery, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, identificou novos compostos que abrem caminho para o desenvolvimento de um medicamento alternativo contra a malária. Trata-se de uma descoberta de extrema importância dada a rapidez com que os fármacos contra a doença se tornam ineficazes ao longo do tempo.



    Estudo internacional com participação da USP identifica nova rota para tratamento da malária. Foto: National Cancer Institute/Unsplash


    No estudo foram testados vários compostos. Quatro deles apresentaram níveis que variam de 50% a 100% de inibição da enzima Aspartate transcarbamoylase (ATC), encontrada no Plasmodium falciparum, um dos principais parasitas causadores da malária.

    A ATC desempenha um papel essencial na biossíntese (formação de compostos químicos) da pirimidina, composto orgânico que participa da síntese (replicação) de DNA e RNA e é necessária para o funcionamento celular do patógeno.

    A seleção dos compostos foi realizada na Holanda, sob a coordenação do professor Matthew Groves, por meio de testes in vitro e cristalografia de raio-x, técnica que permite fundi-los à enzima e observar como eles interagem por meio de pequenos cristais que são produzidos nessa união.

    Os compostos mais promissores foram analisados no Brasil, onde ocorreram os testes in vivo, ou seja, com células humanas ‘invadidas’ pelo parasita. Aqui, o trabalho foi coordenado pelo professor Carsten Wrenger, do Departamento de Parasitologia do ICB.

    As análises também mostraram que os compostos não apresentaram toxicidade, sem qualquer dano à integridade das células humanas nas seis diferentes concentrações em que foram testados.

    “Pudemos colaborar com esse trabalho porque atuamos em um laboratório de alta biossegurança, com condições adequadas para realizar ensaios dessa natureza, sem qualquer risco à saúde dos pesquisadores”, destaca Wrenger.

    Segundo Arne Krüger, aluno de doutorado no grupo do Wrenger, a descoberta é promissora pois a pirimidina suprimida no parasita dificilmente pode ser adquirida de outra forma: “Além da síntese, é possível que o plasmódio adquira pirimidina na natureza, ou seja, por vias selvagens. Mas os plasmódios se reproduzem muito rapidamente, de modo que possíveis vias selvagens podem não ser suficientes para garantir a sobrevivência do parasita, demonstrando a importância da ação dos compostos na inibição da enzima ATC durante a síntese de pirimidina.”

    Segundo ele, esses compostos também têm um efeito mais robusto em comparação com outros inibidores porque impedem a biossíntese de uma substância crucial para o desenvolvimento do parasita.

    Com epidemias da malária voltando em regiões específicas do planeta, sobretudo aquelas onde há cepas mais resistentes, novos tratamentos são indispensáveis.

    “A malária é uma das doenças mais antigas que circulam pela população humana, e esse tempo de circulação tornou o plasmódio extremamente adaptável ao corpo humano. A proliferação também é muito alta e o metabolismo é regulado com facilidade, por ser um organismo que circula dentre várias espécies e ambientes”, explica Krüger.

    Segundo ele, essa versatilidade faz com que o plasmódio crie resistências, tornando os tratamentos obsoletos muito rapidamente.

    Muitos dos fármacos antes utilizados, como a cloroquina, hoje são ineficazes contra boa parte das cepas, daí a importância do investimento em novos tratamentos, além das ações de prevenção, como combate ao mosquito transmissor e vacinação, que são essenciais para a contenção da doença. (Jornal da USP)

    21 DE DEZEMBRO DE 2022



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