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Explosões de supernovas revelam origem de concha estelar gigante
Um grupo internacional liderado pela astrônoma brasileira Beatriz Fernandes, pós-doutoranda do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, desvendou a origem da nebulosa Sh 2-296, que compõe a nebulosa da Gaivota. O trabalho também revelou que três estrelas “em fuga” dessa região foram ejetadas por diferentes explosões de supernovas. O trabalho foi feito em parceria com o Instituto de Astrofísica de Paris.
A Sh 2-296, conhecida como a nebulosa da Gaivota, é uma extensa região no céu em forma de arco, associada à região de formação estelar Canis Major OB1, composta de estrelas jovens, gás e poeira.
Sua origem foi um mistério por muitos anos. Trabalhos anteriores propuseram que ela poderia ser devida a uma antiga explosão de supernova, que teria desencadeado a formação de estrelas nessa região, mas o cenário é bem mais complexo: existem estrelas jovens de várias idades no berçário estelar e ainda não havia sido identificada a estrutura de concha deixada pela suposta explosão de supernova.
O trabalho liderado por Beatriz mostrou que a nebulosa da Gaivota é, na verdade, parte de uma gigantesca concha estelar descoberta pela equipe, que denominou a estrutura de “CMa shell” (concha CMa), e que foi formada por sucessivas explosões de supernova.
“Ao analisar imagens da associação CMa OB1, vemos claramente que a nebulosa Sh 2-296 é de fato parte de uma grande estrutura, que pode ser aproximada por uma grande concha elíptica”, explica Beatriz.
Segunda a pesquisadora, a equipe também identificou três estrelas que estão “fugindo” dessa região, que estão associadas a estruturas de choque em forma de arco (bow shock), com origem comum perto do centro da concha CMa.
“Descobrimos que as estrelas fugitivas, provavelmente, foram ejetadas de um aglomerado de estrelas progenitor, em três sucessivas explosões de supernovas, ocorridas há aproximadamente 6 milhões, 2 milhões e 1 milhão de anos”, explica a astrônoma brasileira.
A descoberta foi possível empregando dados de vários observatórios, usando diversos tipos de emissões: raios-X, visível, infravermelho e rádio, além de informações do satélite europeu GAIA, que mede a distância e os movimentos das estrelas de nossa galáxia.
Todas essas informações permitiram pela primeira vez ter uma visão geral da formação estelar nessa região, diz a pesquisadora.
As sucessivas explosões de supernovas nos últimos 6 milhões de anos desencadearam vários surtos de formação estelar na nebulosa Sh 2-296, mas não era esperado que mais estrelas fossem formadas nessa região.
Segundo a professora do IAG Jane Gregorio-Hetem, “o trabalho de Beatriz desvendou o mistério sobre a história da formação estelar na associação Canis Major OB1.
Ela encontrou evidências de três eventos de explosão de supernovas que induziram ao nascimento de estrelas há alguns milhões de anos. E, ao que tudo indica, não vão ocorrer mais episódios de formação estelar nesta região”, diz. (Luciana H Y Silveira/Apoio Institucional IAG/Jornal da USP)