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Padrão que regula gene relacionado à vitamina D pode estar ligado a tumor da glândula adrenal infantil
Experimentos realizados na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP avançam no entendimento dos mecanismos de formação e crescimento de tumores adrenocorticais (da glândula suprarrenal ou adrenal) em crianças.
Os estudos recém-publicados pela equipe da FMRP mostram relação do tumor com mudanças no padrão de metilação (processo bioquímico que ocorre no DNA e regula a expressão dos genes), de expressão do gene VDR, que codifica o receptor da vitamina D, e também no perfil de metilação global das células tumorais, que é uma informação sobre o status de metilação — positiva/aumentada ou negativa/reduzida — de múltiplas regiões do genoma das células tumorais, indicando um comportamento mais maligno.
Entre os principais mecanismos observados pelos pesquisadores está a menor quantidade do gene VDR quando comparado com pacientes normais.
“Detectamos a redução de sua expressão, mas também buscamos entender o que causa essa expressão reduzida. Uma das possibilidades é a alta metilação do gene que decodifica o VDR, que é um processo biológico que silencia ou expressa genes do nosso DNA. Mas ainda não sabemos por que isso ocorre e, por isso, são necessários estudos complementares para ampliar a compreensão”, afirma Sonir Antonini, professor do Departamento de Puericultura e Pediatria da FMRP e coordenador dos estudos.
Os achados sobre a quantidade desses genes, informa Antonini, foram obtidos de amostras de 108 pacientes pediátricos acompanhados em hospitais terciários no Estado de São Paulo, como o Hospital das Clínicas da FMRP (HCFMRP) e Centro Infantil Boldrini em Campinas.
Já os resultados dos ensaios pré-clínicos in vitro (laboratoriais) e in vivo (modelo animal) mostram o impacto da expressão do VDR sobre o crescimento das células tumorais.
Neste estudo, avaliaram o padrão da metilação (processo de modificação química do DNA que impede a expressão do gene) do VDR em células de tumor adrenocortical.
Antonini afirma que o grupo observou ainda haver “íntima relação entre o VDR e o sistema da via Wnt/Beta-catenina”, outra via importante na formação destes tumores e foco de estudo do grupo.
“Fomos capazes de, nos testes in vitro, modular a expressão do VDR e verificar sua associação com o crescimento de células tumorais”, continua o professor, afirmando que estes achados abriram caminhos para estudar modelo animal de xenoenxerto tumoral, que é a implantação de células e desenvolvimento do tumor humano em camundongos.
E, nestes modelos animais, verificou-se que o estímulo do gene que regula a vitamina D (VDR) – com administração subcutânea de injeções de vitamina D ou análogos nos animais – foi capaz de reduzir significativamente o crescimento tumoral.
Estes estudos foram realizados por Ana Carolina Bueno de Queiroz Arruda, que é nutricionista, pós-doutoranda da FMRP e primeira autora dos artigos.
“Estes achados pavimentam o caminho para, numa fase posterior, comprovar esses efeitos em humanos”, informa Ana Carolina. (Giovanna Grepi e Rita Stella/Jornal da USP)