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Hormônio adiponectina reverte dano provocado por obesidade em células do pâncreas
Cientistas mostraram pela primeira vez que a adiponectina, um hormônio liberado pelo tecido adiposo do corpo, é capaz de modular a secreção de insulina estimulada pela glicose e o fluxo metabólico em células beta pancreáticas.
Estas células, localizadas no pâncreas, são responsáveis por sintetizar e secretar insulina e seu mau funcionamento está relacionado ao desenvolvimento de diabetes tipo 2.
A adição de adiponectina restaura completamente a integridade funcional de células beta desreguladas após tratamento com plasma de doadores obesos, indicando que a disfunção é provocada pela falta do hormônio.
A pesquisa foi realizada por Ana Cláudia Munhoz durante seu pós-doutorado, sob a supervisão da professora Alicia Kowaltowski, do Instituto de Química (IQ) da USP e do Cepid Redoxoma.
“Esse trabalho abre portas para novas pesquisas focando na ação da adiponectina na célula beta, explorando mecanismos dos seus efeitos, por exemplo”, afirma Ana Cláudia Munhoz, primeira autora do artigo.
“Essa foi uma resposta que a gente deu para nossa pergunta científica original, e que abriu um milhão de outras perguntas a serem exploradas em estudos futuros.”
A adiponectina é encontrada em níveis elevados em pessoas magras. No estudo, as pesquisadoras mostraram que a incubação de células beta com soro ou plasma de ratos e humanos obesos, comparação ao soro e plasma de ratos e humanos magros, dificulta dois processos.
Primeiro, a fosforilação oxidativa mitocondrial – etapa do metabolismo que forma a molécula de ATP, espécie de “combustível” que armazena energia para as células. E atrapalha também a secreção de insulina estimulada por glicose (GSIS).
Elas mostraram ainda que a adiponectina sozinha, na ausência de soro, mantém a função das células beta e reverte os efeitos nocivos do plasma de obesos.
Para a professora Alícia Kowaltowski, esses resultados indicam um caminho específico para proteger as células beta e prevenir sua degeneração ligada à obesidade.
“Isso significa que a gente tem grandes possibilidades de poder desenhar drogas no futuro que previnam a degeneração pancreática na obesidade. O efeito da adiponectina nesse modelo é tão grande e é tão reprodutível em diferentes modelos animais, que para mim traz muita esperança.”
Cerca de meio bilhão de pessoas vive atualmente com diabetes mellitus tipo 2 e esse número deve aumentar em 51% até 2045, na medida em que os índices de obesidade continuam aumentando e a população envelhece.
O diabetes tipo 2 é uma doença crônica, relacionada à idade, que se caracteriza pelo descontrole da glicose no sangue, causado pela diminuição da ação da insulina, a chamada resistência à insulina, ou pela liberação inadequada dela pelas células beta pancreáticas, o que, por sua vez, leva também a esse quadro de resistência. (Jornal da USP)