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    Lúpulo tem potencial para reduzir uso de antibióticos na criação de frangos

    Um estudo realizado por pesquisadores do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP mostrou que pode ser viável reduzir o uso de antibióticos na dieta dos frangos de corte empregando extratos de lúpulo, planta trepadeira da família das canabináceas utilizada na composição da cerveja.



    Lúpulo tem potencial para reduzir uso de antibióticos na criação de frangos. Foto: Reprodução/Pixabay


    Os extratos foram capazes de exercer a mesma função dos fármacos, sem comprometer o sabor e o cheiro da carne. Os frangos suplementados com a planta também apresentaram uma quantidade maior de antioxidantes.

    Um procedimento comum realizado pelos criadores de frangos é a incorporação de antibióticos promotores de crescimento na dieta das aves para que elas se desenvolvam mais rápido e tenham um risco menor de ficarem doentes, deixando de comprometer a qualidade da carne, ou reduzir a quantidade de animais adequados para corte.

    No entanto, resquícios de antibióticos podem permanecer no organismo das aves após o abate e serem ingeridos pelos consumidores, colaborando para o surgimento de bactérias resistentes.

    Os pesquisadores conduziram experimentos com dezenas de frangos de corte que foram suplementados com dietas variadas durante 42 dias na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba.

    Após o período, os animais foram abatidos e filés de peito dos frangos foram assados em grelha comum para, posteriormente, serem analisados quimicamente no laboratório do IQSC.

    Os especialistas observaram que a carne dos frangos cuja ração foi misturada com extratos de lúpulo tinha propriedades semelhantes à dos que receberam a dieta convencional (com antibióticos), apresentando o mesmo aroma, consistência e diversos compostos desejados para uma carne de frango assada de boa qualidade, como aldeídos e pirazinas.

    Além disso, as carnes dos frangos que consumiram lúpulo durante a vida apresentavam maior capacidade de resistir a processos de oxidação (de degradação) se comparadas à carne dos animais que não receberam os extratos da planta.

    “Nossa ideia foi investigar se a utilização do lúpulo poderia modificar o aroma e o sabor da carne assada dos frangos, e vimos que isso não acontece. Além disso, observamos que a carne dos frangos suplementados com extratos da planta, especialmente na concentração de 30 miligramas por quilo de ração, apresentou uma quantidade maior de antioxidantes em comparação com o grupo controle (sem lúpulo na dieta). Por fim, também identificamos na carne dos frangos que receberam lúpulo um grande número de compostos importantes para o seu sabor”, explica Stanislau Bogusz Junior, professor do IQSC e orientador do trabalho, que é fruto da pesquisa de mestrado de Larissa Chirino.

    O aumento do interesse em fontes mais ecológicas de antioxidantes é o que estimula a pesquisa de alternativas naturais para aumentar a produção avícola e tornar o processo mais sustentável, sendo o lúpulo uma das fontes de ingredientes que se destaca por sua atividade antioxidante.

    Composta quimicamente de fenólicos, óleos essenciais e alguns ácidos, a planta é usada em cervejarias para controlar processos oxidativos e contaminação microbiana, além de ser responsável por conferir amargor à bebida e aumentar sua durabilidade.

    “Olhando do ponto de vista custo/benefício, o lúpulo é uma alternativa atrativa para a produção de carne de frango mais saudável, ambientalmente amigável e, de certa maneira, orgânica. As lupulonas (extrato utilizado no trabalho) são em geral um subproduto da indústria cervejeira e, desta forma, poderiam ser empregadas com um custo relativamente baixo”, afirma Daniel Cardoso, professor do IQSC e também autor do trabalho.

    “Com esse trabalho, nós demonstramos a possibilidade de usar um extrato natural para substituir os promotores de crescimento, reduzindo barreiras de exportação e resíduos de antibióticos na carne. Hoje em dia eu trabalho com legislação e regulação de alimentos e vejo o quanto essa questão é rigorosa fora do País”, conta Larissa Chirino.

    Ela destaca o caráter prático da pesquisa, trazendo uma aplicação que interessa a diferentes públicos. “Para os produtores de lúpulo, também passa a ser uma nova possibilidade comercial, já que eles poderiam dar outro destino à planta e abrir um novo mercado”, diz ela. (Jornal da USP)

    13 DE MARÇO DE 2023



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