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Estudo identifica seis medicamentos que podem ser reposicionados para o tratamento da toxoplasmose
A ciência procura novas opções de tratamento para a toxoplasmose, infecção que atinge mais de um terço da humanidade.
Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Jundiaí avaliou 160 medicamentos que integram a chamada “COVID Box” – uma biblioteca de compostos com atividade prevista contra o vírus SARS-CoV-2 que foi desenvolvida pela Medicines for Malaria Venture (MMV).
“Identificamos seis compostos que são pelo menos 30 vezes mais letais ao parasito da toxoplasmose do que às células hospedeiras”, conta Juliana Quero Reimão, pesquisadora responsável pelo estudo.
Os compostos selecionados foram: etaverina, fluspirileno, tietilperazina, PB 28, nebivolol e almitrina. “Dentre estes, testamos em camundongos com toxoplasmose crônica a almitrina, indicada para o tratamento da doença obstrutiva pulmonar crônica [DPOC].
Observamos que esse composto foi eficaz, levando a uma redução significativa da carga parasitária no cérebro”, relata Reimão, que é professora de parasitologia e orientadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde na Faculdade de Medicina de Jundiaí.
No laboratório, os compostos da COVID Box foram inicialmente avaliados em células humanas infectadas pelo protozoário Toxoplasma gondii, o agente da toxoplasmose. Também foram feitos estudos computacionais para avaliar as propriedades de absorção, distribuição, metabolismo, excreção e toxicidade.
“Todos os compostos selecionados apresentaram alta absorção gastrointestinal e permeação da barreira hematoencefálica (estrutura que protege o cérebro contra substâncias tóxicas), uma característica desejável para o tratamento de doenças causadas por parasitos que se alojam em células cerebrais. Procuramos compostos capazes de entrar nas células e eliminar o patógeno, mas que preservassem as células que o abrigavam”, diz a pesquisadora.
Ainda que sejam necessários mais testes para que a descoberta possa ser usada em humanos com essa finalidade, a pesquisadora comemora os resultados e antevê os frutos que o estudo poderá trazer. “A partir deste trabalho, outros virão. Há mais compostos que ainda estamos avaliando e que talvez sejam tão bons ou até melhores do que os já identificados”, diz.
A complexidade do tratamento da toxoplasmose está relacionada à existência de duas fases da doença. Atualmente, há medicamentos eficazes para a fase aguda, mas que não são indicados para a etapa crônica.
O período agudo da toxoplasmose corresponde ao estágio inicial da contaminação, que ocorre pela exposição ao protozoário durante a ingestão de água ou alimentos malcozidos e contaminados – ou ainda por transmissão congênita durante a gestação.
Nessa fase, que pode durar algumas semanas, o parasito se reproduz rápida e intensamente e busca se alojar nas células do seu hospedeiro (principalmente nas do cérebro, dos olhos e músculos), criando uma espécie de esconderijo onde se aloja na forma de cistos. A partir daí os sintomas desaparecem ou diminuem e a doença entra em fase crônica, com a presença do parasito em estado latente.
O perigo ressurge se a imunidade do hospedeiro baixar. Em tais circunstâncias, o Toxoplasma gondii pode se reativar e causar problemas ainda maiores, com sequelas cerebrais e até a morte. O teste para rastrear o T. gondii é feito, como rotina, em mulheres grávidas no primeiro trimestre de gestação. O risco da toxoplasmose nesse grupo é de contágio do feto, resultando na toxoplasmose congênita.
Em humanos, a contaminação ocorre principalmente pela ingestão de água e alimentos contaminados. Na forma congênita, em que a transmissão ocorre durante a gestação, há risco de abortamento, malformações e sequelas neurológicas, auditivas e oculares.
Em geral, a maioria das pessoas não apresenta sintomas, ainda que alguns possam ter manifestações como dores musculares e nas articulações, mal-estar semelhante ao de uma gripe, linfonodos aumentados e fadiga. (Mônica Tarantino/Agência FAPESP)