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    Nanopartículas contendo substância natural tratam leishmaniose visceral com pouco efeito adverso

    Um novo tratamento desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) pode revolucionar o combate à leishmaniose visceral – doença tropical que afeta cerca de 400 mil pessoas ao ano no mundo.



    Nanopartículas lipídicas observadas em microscópio sem (A) e com (B) o princípio ativo encapsulado. Imagem: acervo dos pesquisadores


    Trata-se da administração de nanopartículas contendo lupeol, composto químico presente em diversas espécies vegetais, incluindo frutas como manga, uva e morango. Em testes com animais, a estratégia mostrou-se capaz de eliminar quase completamente o protozoário do gênero Leishmania, causador da doença, dos órgãos afetados.

    A leishmaniose visceral é a forma clínica da doença infecciosa tropical que oferece alto risco de vida: a taxa de mortalidade chega a 95% se não tratada, segundo a OMS. E mesmo quando os protocolos recomendados são seguidos, o índice de mortalidade é de até 10%.

    Para piorar o quadro, os tratamentos atualmente disponíveis – baseados principalmente no uso de antimoniais pentavalentes ou anfotericina B – causam efeitos colaterais severos no coração, fígado e nos rins dos pacientes.

    Além disso, alguns fármacos têm custo extremamente elevado, especialmente para os sistemas públicos de saúde, e, se ministrados de forma inadequada, podem gerar parasitas resistentes. Daí a importância de se encontrar novos compostos ativos e os cientistas têm centrado esforços nos produtos naturais, identificados em plantas.

    Neste estudo pesquisadores do Instituto de Biociências da Unesp, campus do Litoral Paulista (IB-CLP), criaram uma nova abordagem: ministrar o lupeol – composto químico da classe dos triterpenos, produzido e acumulado por certas espécies de plantas – encapsulado em nanopartículas lipídicas.

    “O lupeol já apresentou, em estudos in vitro, capacidade de eliminar diversas formas de Leishmania, mas apresenta baixa solubilidade em diluentes fisiológicos, o que limita sua biodisponibilidade in vivo”, explica Jéssica Adriana de Jesus, pós-doutoranda no IB-CLP e primeira autora do estudo.

    “Colocá-lo dentro de nanopartículas lipídicas soluciona esse problema, pois permite superar barreiras biológicas, maximizar o efeito terapêutico e liberar o fármaco em um local específico – no caso da leishmaniose visceral, no baço, no fígado e na medula óssea”, completa. “Esses nanocarreadores nada mais são do que um veículo que leva o composto até o local necessário. Ali, com o pH adequado, eles se abrem, liberando o fármaco.”

    O experimento feito na Unesp envolveu quatro grupos de animais infectados com a espécie Leishmania infantum e tratados durante dez dias: o primeiro recebeu apenas lupeol; o segundo foi tratado com nanopartículas contendo o composto; o terceiro recebeu apenas o veículo (nanopartículas sem o princípio ativo); e, o quarto, recebeu placebo. Após esse período, foram coletados baço, fígado, sangue e plasma, que passaram por análises bioquímicas, fisiopatológicas e de carga parasitária.

    Como esperado, os carreadores lipídicos nanoestruturados contendo lupeol apresentam eficácia superior à do fármaco sozinho na eliminação de parasitas no baço e fígado de hamsters com leishmaniose visceral: sua administração durante dez dias consecutivos reduziu em 99,9% o número de parasitas.

    “Além disso, os animais tratados dessa forma apresentaram apenas alterações histopatológicas mínimas no baço e no fígado”, conta a pesquisadora. “Pela primeira vez, comprovamos que essa combinação é altamente eficaz no tratamento da doença e deve ser considerada como uma formulação significativa a ser utilizada.”

    No estudo recém-publicado, as nanopartículas contendo lupeol foram administradas por meio de uma injeção intraperitoneal (na cavidade abdominal dos animais).

    Os próximos passos do grupo incluem desenvolver um nanocarregador para uso oral, o que permitiria ao paciente se tratar em casa, e também versões para aplicação tópica, voltadas ao tratamento da leishmaniose cutânea. (Julia Moióli/Agência FAPESP)

    12 DE MARÇO DE 2024



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