Um Mundo de Conhecimento
    Ciência

    Ossos ocos que permitiram gigantismo de dinossauros evoluíram pelo menos três vezes de forma independente

    Dinossauros do tamanho de ônibus não seriam possíveis se seus ossos fossem como os dos humanos, densos e pesados, e não como das aves atuais, que são ocos por abrigarem estruturas conhecidas como sacos aéreos.



    Gnathovorax cabreirai foi um herrerasaurídeo, linhagem extinta pouco depois do período em que viveu. Foi descoberto em São João do Polêsine (RS). Assim como as outras duas espécies analisadas no estudo, não tinha evidências de sacos aéreos. Ilustração: Márcio Castro


    O surgimento desses espaços dentro dos ossos, que dão menor densidade e mais leveza para o esqueleto, parece ter sido tão vantajoso que aconteceu pelo menos três vezes ao longo da evolução dos dinossauros e pterossauros (“répteis” voadores), revela estudo.

    “Ossos menos densos e com mais ar trouxeram aos dinossauros e aos pterossauros [e ainda trazem para as aves] mais oxigênio circulando no sangue, além de maior agilidade para caçar, fugir e lutar, ou mesmo para voar. Não só gastavam menos energia, como resfriavam o corpo com mais eficiência”, resume Tito Aureliano, primeiro autor do estudo – fruto de sua pesquisa de doutorado conduzida no Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (IG-Unicamp).

    Aureliano analisou ossos fossilizados de três espécies brasileiras do Período Triássico Tardio (cerca de 233 milhões de anos atrás), quando os dinossauros surgiram na Terra.

    Todas foram encontradas no Rio Grande do Sul nas últimas décadas. Conhecer a fundo indivíduos de grupos evolutivos distintos, de um período tão inicial na evolução desses animais, permite saber quando surgiram determinadas características.

    No caso, os pesquisadores buscavam sinais da presença de sacos aéreos, bastante conhecidos em espécies mais recentes na escala do tempo geológico (e mais estudadas), como o tiranossauro ou o velociraptor, por exemplo.

    E ainda presentes nas aves atuais. Os sacos aéreos se espalham por todo o corpo, mas seguem a coluna vertebral, com espaços nos ossos que abrigam porções deles.

    Usando tomografia computadorizada, que possibilita visualizar a estrutura interna de fósseis, os pesquisadores encontraram apenas pequenas passagens nas vértebras e conseguiram avaliar os pontos por onde passavam veias e artérias, a medula espinhal e onde se fixavam músculos e tendões.

    Nenhuma delas capaz de abrigar sacos respiratórios que fluíam ar continuamente.

    “O Triássico era muito quente e seco. O que hoje é o Rio Grande do Sul ficava longe do mar, no centro do grande continente Pangeia. Com isso, uma maior circulação de oxigênio no sangue, capaz de resfriar o corpo com mais eficiência, foi certamente uma vantagem bem-vinda, adquirida pelo menos três vezes de forma independente”, conta Fresia Ricardi Branco, professora do IG-Unicamp e coordenadora do estudo.

    As três espécies que tiveram os fósseis analisados foram encontradas na Região da Quarta Colônia, perto de Santa Maria, no interior do Rio Grande do Sul, entre 2011 e 2019, por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

    As espécies analisadas foram Buriolestes schultzi e Pampadromaeus barberenai, dos sauropodomorfos, grupo que mais tarde abrigaria os dinossauros pescoçudos. O outro dinossauro analisado foi o Gnathovorax cabreirai, um herrerasaurídeo, linhagem extinta pouco depois do período em que viveu.

    Um estudo publicado em 2021 por pesquisadores da África do Sul, Reino Unido, Estados Unidos e Canadá já havia mostrado que outra linhagem de dinossauros, os Ornithischia, surgida provavelmente depois, no Jurássico (entre 201 milhões e 145 milhões de anos atrás), também não tinha estruturas que pudessem abrigar os sacos aéreos.

    As evidências somadas desse grupo, os Ornithischia, conhecido pelos Triceratops, com os outros dois analisados agora (sauropodomorfos e herrerasaurídeos), mostram que a presença dos sacos aéreos ocorreu de forma independente entre os grupos.

    “Mostram que nenhum ancestral comum deles tinha essa característica. Os três grupos que possuem sacos aéreos, portanto, chegaram a esse mesmo traço de forma independente”, conclui Aureliano.

    Os outros grupos que possuíram sacos aéreos foram os pterossauros, grupo dos “répteis” voadores como os pterodáctilos; os terópodes (tiranossauro e velociraptor), que incluem as aves atuais, e os saurópodes, os herbívoros pescoçudos.

    Apesar de serem descendentes do Buriolestes schultzi e do Pampadromaeus barberenai, na linhagem dos dinossauros pescoçudos, os ossos ocos só surgiram depois, ainda não se sabe exatamente quando.

    “Os dinossauros mais antigos do mundo estão na América do Sul e só foram descobertos nas últimas duas décadas. É preciso continuar a realizar esse tipo de pesquisa, que mostra como os organismos dominantes do período lidaram com um clima muito mais quente do que o atual”, encerra Ricardi Branco. (André Julião/Agência FAPESP)

    2 DE MARÇO DE 2023



    VOCÊ TAMBÉM PODE ESTAR INTERESSADO EM

    Estudo reúne os principais achados sobre a habilidade dos cães em interpretar emoções humanas, discute sobre como esses animais reagem a essa percepção e sugere alguns pontos para investigações futuras.
    Para psicólogos, associação entre a condição conhecida como alexitimia e alguma doença orgânica não se evidencia de forma consistente; problema estaria mais ligado às características típicas da sociedade atual.
    Entre agosto de 2015 e julho de 2016, a Amazônia perdeu 7.989 quilômetros quadrados de floresta, a maior taxa desde 2008, segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia a partir de dados oficiais divulgados pelo governo federal no fim do ano passado.
    A população mundial de girafas sofreu redução de 40% nos últimos 30 anos, passando de 155 mil em 1985 para pouco mais de 97 mil em 2015.
    Estudo liderado por pesquisador do Instituto de Física da USP apresenta o controle inédito das propriedades de fônons quirais por meio de sua interação com a topologia eletrônica.
    Um dos grandes desafios enfrentados por quem sofre com diabetes tipo 1 é a dificuldade de cicatrização da pele.

    © 1991-2024 The Titi Tudorancea Bulletin | Titi Tudorancea® is a Registered Trademark | Termos de Uso
    Contact