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    Técnica criada na Unicamp extrai pectina da casca do maracujá com mais eficiência e sem solventes tóxicos

    Maior produtor do mundo, o Brasil foi responsável pela colheita de mais de 680 mil toneladas de maracujá em 2021, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Porém, além da polpa para consumo in natura ou para a fabricação de sucos e outros produtos, o processamento agroindustrial da fruta gera cerca de 390 mil toneladas anuais de cascas que, apesar de ricas em pectina (substância natural responsável pela textura em gel de alimentos como geleias e tradicionalmente obtida a partir das cascas de laranja e limão), quase sempre são desperdiçadas – apenas uma fração é destinada à produção de ração animal, fertilizante e farinha. Para dar ao resíduo um destino mais nobre, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveram um método eficiente e sustentável de extração do gelificante.



    Maracujá. Foto: Michael Kucharski/Unsplash


    “Nossa ideia foi aproveitar as cascas de maracujá que seriam descartadas de uma maneira que aliasse sustentabilidade e eficiência e, por isso, investigamos a extração da pectina com o uso de líquidos pressurizados a partir da casca da fruta e da sua biomassa residual obtida após a extração de compostos bioativos”, explica Débora Tamires Vitor Pereira, autora do trabalho.

    “Também estudamos diversos solventes naturais que não agridem o meio ambiente e a saúde humana [como água pura e diferentes combinações de solventes eutéticos profundos]. A água e a combinação ácido cítrico, glicose e água pressurizada foram os melhores solventes para a extração de pectina da casca do maracujá.”

    Ao contrário do processo industrial tradicional de obtenção de pectina, que se baseia no aquecimento da matéria-prima com ácidos tóxicos e tem longas horas de duração, a nova técnica é conduzida em minutos, exclusivamente com tecnologias emergentes que aumentam sua eficiência e rendimento e diminuem o consumo de energia.

    Além disso, se mostrou capaz de gerar dois produtos com diferentes aplicações: a pectina de alto grau de esterificação, usada como gelificante, estabilizador, emulsificante e espessante em geleias, e a pectina de baixo grau de esterificação, aplicada em produtos dietéticos ou de baixa caloria como substituta da gordura.

    A primeira etapa do processo de extração envolve a secagem a 60 °C e teor de umidade de 15% das cascas frescas, que depois são moídas e peneiradas. Desse pó é extraída a pectina.

    Se o objetivo for obter o gelificante de alto grau de esterificação, o processo é com água pura pressurizada; para a de baixo grau, aplicam-se solventes eutéticos profundos – tradicionalmente, para se conseguir esse segundo tipo, é preciso desesterificar a pectina de alto grau, um processo extra que demanda etapas adicionais e maior uso de solventes tóxicos.

    “É importante considerar também que os solventes utilizados em nosso método, além de naturais, atendendo a uma demanda crescente da sociedade, são substâncias de grau alimentício, ou seja, que podem ser usadas no processamento de alimentos sem restrições legais e problemas de toxicidade”, completa Julian Martínez, professor do Departamento de Engenharia e Tecnologia de Alimentos da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp e orientador do estudo. (Julia Moióli/Agência FAPESP)

    22 DE MARÇO DE 2023



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